segunda-feira, 28 de novembro de 2011

poeminha quântico

somos todos costurados
neste mundo plano feito
efeito de um só estilha
çoque explodiu para dentro.

se não olharmos,
tudo são possibilidades.
quando olhamos,partículas de existência.

coisas
não
são
coisas
são
tendências.

quero me libertar totalmente
como se todos os caminhos
fossem fluxos inconseqüentes
cargas elétricas em transe fixo.

você já viu a si mesmo
através dos olhos vesgos
de quem você se tornou?

um ser humano saber
sobre a origem das coisas
é como um peixe saber
sobre a origem dos mares
ou as bombas saberem
sobre a origem da guerra.

enquanto os espaços infinitos
forem vontades normalizadas
seremos todos antipromessas.

by Leonardo Marona.




às vezes acho a certeza
perdida em alguma mesa de bar.
Certas pessoas simplesmente não existem!

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Descartando


Cogito
logo
regurgito.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Bala!

Feriado, pra que te quero? Se no Brasil as coisas vivem num eterno recesso? Todo dia é dia de cana, enchentes, vias entupidas, novelas e canaviais. Se você quiser mudar de vida: ih, hoje não vai dar. É dia de futebol na TV. Do último capítulo da novela das oito. De descobrir quem matou Odete Roitman. Conheço estas histórias de outros carnavais. No Brasil se paga o prato e se come o pato. Mas ainda sim, existem outros animais que pensam: no futuro, na futilidade da vida, na ironia e na decadência dos outros animais. Ornitorrincos e pardais. Estes sim, são bichos porretas.
Nesta semana, no meu trajeto ao trabalho, dentro de um ônibus cheio de pessoas vazias, perdi o sono com o livro de estréia do Gabriel, O Pardal. Que fera! Que Garra! Animal! Carnavália é o livro que se desnuda sem precisar estar num carnaval. E prega uma peça bonita nessa gentalha.
Este cara, que tem pinta de sulista, ginga de carioca e vem lá da Bahia. Ele não está falando sério. E quem no Brasil fala sério? Ninguém se leva a sério. Estamos dispostos a arrancar gargalhadas da desgraça alheia. Ou da própria. Das prestações vencidas, das almas perdidas, dos cartões estourados. Vende-se desespero como mercadoria. Quem dá mais!? "a ideia inicial era que na/ falta de balas, cassetetes e granadas, você pudesse/ arremessar este livro contra os inimigos." Pardal dá o troco nesta palhaçada toda sem receber um tostão. E neste circo armado de fanfarrões e carrascos mascarados de apresentadores de comerciais, Gabriel, o professor-pardal, só quer mostrar pros senhores e para as senhoras a mais nova invenção que o mundo já conheceu, da mais alta inovação ideológica que um homem já conseguiu: Carnavália. E aproveite para saborear esta incrível cria, enquanto o seu dinheiro te leva para passear, antes que o mundo se acabe em doces e travessuras. Isto aqui rapá, é bala.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Ele & Ela III

Eles estão abraçados. Olham para aquela paisagem escura do quarto. As cortinas ainda estão fechadas. Os cheiros dos cigarros falecidos misturam-se com os cheiros dos novos. Não há espaço para luz ou perfume naquele ambiente.

- Tá um friozinho, né?

- Aqui dentro ou lá fora ?

- Dentro de mim.

- Então me abraça mais forte...

Eles apertam ainda mais os seus corpos um no outro.

Ele está sentado de costas, escrevendo. Parece empolgado com as coisas que acabou de escrever. Fuma um cigarro atrás do outro, que nem um gafanhoto. Gafanhotos ou canhotos fumam? ele não é canhoto e nem gafanhoto e ainda sim fuma.

- O clima mudou tão rapidamente não acha?

- De uns três meses para cá tudo mudou.

- As coisas ou a gente?

- Um pouquinho dos dois, eu acho.

- É aquele lance das coisas que se misturam e necessitam uma da outra para sobreviverem.

- As coisas ou a gente?

- um pouco dos dois,eu acho...

(silêncio)

- Quem foi que deixou isso acontecer?

- Eu sei que eu tô fazendo a minha parte.

- Me deixando sozinho mais de uma semana?

- Não comece... isso já havia sido conversado antes.

- Eu sei, mas eu também já havia comentado que seria muito difícil para mim.

- O que eu posso fazer por você?

- Você já faz coisas demais por mim.

- Você não me ama mais?

- É justamente o contrário...

- Eu não consigo entender, então por que tanta escuridão? Por que tantos cigarros? Por que tanta solidão?

- Por que tantas perguntas?

(eles sorriem)

- Acho que nós chegamos naquele momento.

- Que momento?

- Da normalidade das coisas.

- Normalidade ou banalidade?

- Um pouco dos dois, eu acho.

- Nós estamos nos acostumando com as nossas ausências...

- Eu sou viciado em você. Você já ouviu falar da teoria do vício?

- Não.

- Todo viciado quando passa três dias sem praticar o seu vício, está prestes a larga-lo de vez.

- Sim...

- Estou há mais de uma semana sem te ver...

- Você está se curando de mim, é isso?

- Mais ou menos...pra esses tipos de coisas não se curam assim tão de repente.

- Está tentando se esquecer?

- Eu ainda não sei... Acho que eu estou tentando me adaptar.

- Eu também sofro meu amor.

- Mas você parece tão bem.

- Por dentro ou por fora?

- Por fora...

- Então, eu também sofro com a nossa distância.

Ele lê o que escreveu na folha de papel. Levanta-se com uma empolgação. Pega o celular em cima da estante e liga para ela. Antes que ela possa dizer alô, ele vai logo falando:

- Oi amor !

Uma barulheira de fundo.

Ele ouve algumas pessoas gritando e rindo surgem frases do tipo: “Oi amor”, “meu amor”, “amoooooor”.

- Você está onde?

- Estou indo viajar, não lembra?

- Eu havia me esquecido...parei no tempo.

- Seu bobo, você está sempre parado no tempo.

(silêncio)

- Que barulheira toda é essa?

- São os meus amigos que estão me zoando aqui. Eles são invejosos.

(ele sorri sem que ele veja)

- É alguma coisa de urgente?

(ele olha para a folha de papel)

- Não... Não... Esquece.

(silêncio)

-Então tá.

-Tá bem...

- Beijo pra você.

- Beijo pra você também... Te cuida.

- Você também.

Eles desligam o telefone. Ele continua olhando para a folha de papel. Já não está mais empolgado com a descoberta que fez.

- Acho que aquilo foi um adeus.

- Tem certeza ?

- Você vai me deixar sozinho por uma semana...

- É. Com todos os seus vícios. Será que a gente não vai nem fazer a nossa última transa? O Nosso sexo é a nossa maior virtude!

- E o nosso maior vício.

- A gente não pode esquecer de tudo isso.

- Eu só preciso pensar um pouco.

- Pensar mais?!

- É o meu vício...

- Olha, você está usando aquela camisa vermelha que eu te dei! Mas essa barba mal feita... Você está parecendo um comunista.

- Sou um comunista romântico.

- Toda forma de ideologia é romântica, não?

- Eu estou de luto.

- De luto ou de luta?

- Luto...pelos bombeiros.

- Você sempre arranjando desculpas.

- E você sempre fugindo delas.

- E agora, como nós vamos ficar?

- Agora somos dois partidos diferentes.

- Corações partidos.

Eles se abraçam mais forte.

- O céu está lindo, não acha?

- Sim. Está como sempre foi. Nós é que sempre esquecemos de olha-lo.

- Posso te pedir uma coisa?

- Você pode me pedir muitas coisas.

- Não me solte.

- Pode deixar.

- Vamos ficar aqui...

- ...Para sempre.

- Olhe, eu estou nos olhando!

- Sério?

- Sim! Agora faça já uma cara de feliz.

- Como assim?

- Dê aquele sorriso que eu adoro!

- Qual deles?

- Aquele que você fecha os olhinhos.

- Assim ?

- Isso! Tá linda!

- Será que você vai perceber que nós estamos felizes?

- Claro que sim! eu me conheço...

Ele olha para a fotografia grudada no mural. Aquela imagem deles abraçados tirada na última viagem.

O sorriso parecia ser eterno.

Um breve momento de felicidade registrado para sempre.

A vida continua tendo o mesmo sorriso de sempre, nós é que nunca nos demos conta de que esse sorriso é pra gente.