terça-feira, 30 de outubro de 2012

conserva

Acabei de passar pela "Cartilha" do João Lima, seu primeiro livro de poemas lançado pela Ocho/2. Lembrei de uma velha situação, de uma professora velha que ensinava uma tabuada velha e decorada: "para que nos servirá a tabuada tia? Para aprendermos a jogar fora o nosso apego aos números." Não me lembro bem de onde eu tirei esta história, mas se não me falha a memória alguma coisa parecida eu aprendi com os melhores poetas do brasil: CDA e Manoel de Barros. É na infância que o nosso mundo cresce, mas continua pequenino para caber dentro de nós. E a poesia? É brincadeira da gente grande que faz do papel o seu parque de diversão.

Assim como "Dobradura" de Alice Sant'anna, a "Cartilha" de João pede a mão do leitor com carinho para atravessar a rua. Uma rua infinita que fica na memória, como o último verão na casa de praia, como a primeira vez que andamos numa bicicleta sem rodinhas e como deveriam ser todas as ruas do mundo.

.

tão fácil transpor
uma fronteira

a verdade é que
não há fronteiras

.

Rua dois de fevereiro

E eu que pensava que o mundo
era pequeno demais e o conhecia
como a palma da minha mão
só porque minha rua - a minha
antiga rua de macadame -
não tinha saída

Pois o meu desejo secreto de menino
era mesmo que nenhuma rua
no mundo tivesse fim.

.

achou tão bucólico
o que escrevi

e sem que eu esperasse
olhou par amim

me senti mais velho
de repente

.

Epígrafe

sempre achei que os livros
fossem feitos de terra e
as palavras
sementes.