sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

descobrimenta


(para ler ouvindo “le femme d’argent”)


é quando de repente sopra um novo air
nos ouvidos mesmo com língua diferente
furacão ou liquidificador não importa
o tamanho da fala
meus ouvidos estão abertos
para qualquer semibreve deus
penetr AR

é como quando avistamos terra debaixo da saia

me trazendo de volta a terra natal
ano novo
eu ovo o que qualquer coisa tem a dizer

sou índia esperando de pernas abertas
ser colonizada por qualquer estado alterado de consciência
para chamar de meu
                         deus.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

poema para o fim do mundo

devo morrer agora?

oi estou procurando uma saída
ou qualquer letreiro de bar
para o fim do mundo
o seu teor alcoólico salvaria a minha vida?

oi como eu faço
para voltar a ver a luz do letreiro
escrito "Kaiser"? faz anos que
os dias apagaram. você mudou bastante desde então.

oi eu recebi sua mensagem
mas eu já tinha visto o fim do mundo antes
ele tinha um letreiro de bar
escrito "Kaiser". nada mudou com certeza.

.

(o fim do mundo é em cú-ricica e todos os dias estou sempre morrendo por aqui. 21/12/12)

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

um novo look

foi vovó quem disse
que era preciso mudar
toda uma reflexão
a começar pela barba (primeiro:
os brancos, sempre. pura
questão de racismo)
até você chegar e dizer
que também irá mudar
de vítima para assassina
o que está usando debaixo dos panos
a sua coleção de flores, não.
a desgraça do seu sobrenome, acho
mais justo.
mas de dentro
ainda mais dentro
acho melhor você mudar
continua uma bagunça.

.

(home, 04/11/2012)

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

gramatică limbii române cinematografiei

Verão, Rio de Janeiro, 2012. Com o clima e os termômetros apontando para mais uma quebra, os cariocas já conseguem visualizar nos painéis eletrônicos o fim do mundo antes da hora estipulada pelos Maias: "Ê, ô, ê, ô! O fim do mundo é o calor!" Só há uma maneira de saborear o mundo enquanto ele volta à estaca zero: derretido. Como um pacote de sacolé que não resiste na mão de uma criança. E o final de semana quase não resistiu a tantos apuros. Foram festas e mais festas em homenagem aos mortos-vivos que ainda não morreram, em nome do pai, do filho e dos espíritos santos que abençoam esta cidade ex-maravilhosa. Estamos na época das ofertas e queimações. E para o velho Noel, os pedidos este ano acumularam a extraordinária necessidade que o homem tem de satisfazer-se sozinho: colocando algo na boca. De preferência gelado, para refrescar. E de, além de um domingo calmo e ameno (São Pedro foi generoso), palavras para encontrar na refrescância de hálito, uma língua nova. Já que a minha ficou desgastada, morta nalgum canto do mundo que não tem nada a ver com o calor do Brasil e carnaval. Mas que no fundo deu samba.

O domingo, como é comum na vida de todos, é o dia de. De não se fazer nada, de ver um filme que há tempos está parado no HD do computador, de ajeitar o quarto, de escrever seu relatório da última aula que está parado, de ir à praia... Mas meu domingo, além de irmão, é sempre um retorno a um caso perdido. Não à toa, escolhi um filme romeno para assistir ao* domingo (*lê-se "ao lado de"). "Poliţist, adjectiv" é um drama policial do diretor Corneliu Porumboiu lançado em 2009 e que garantiu ao diretor o prêmio de melhor filme no júri popular da seção "un certain regard" e um lugarzinho ao sol de Cannes. E a coisa não para por aí. O diretor Corneliu Porumboiu faz parte da nova geração de diretores romenos, dos que levantam a cabeça, arregaçam as mangas, colocam as mãos na massa para pintar um novo cenário no pano de fundo uniforme deixado pela extinta ditadura comunista e que está caindo na graça dos festivais de cinema na europa. "Nouvelle Vague romena", "Nouvelle Vague do leste europeu" ou "Nouvelle nouvelle Vague" são alguns dos batismos concedidos dos mais velhos, os bem preparados e equipados cinemas europeus à nova geração.


Na Romênia é tão difícil ser romeno que a maioria deles vai parar na França (no caso dos cineastas e a maioria dos poetas) e em Portugal. A Romênia é um lugar de passagem, dos ciganos cantadores, dos cultos folclóricos em louvor a uma força maior. O Conde Drácula, como todos sabem, e apenas isto. Mas este país bucólico, de sangue e origem latina, da língua miscigenada de definição exótica (ítalo-franco-portunhol?), desde a copa de 94, está mostrando as suas garras e dentes afiados para nadar contra a maré e dar a volta por cima das ruínas deixadas pelo seu último ditador Nicolae Ceauşescu. Na realidade, ou "neo-realismo" romeno, nadar contra a maré é com eles mesmos. Os romenos estão na busca por uma identidade, num momento em que eles não se consideram dignos de sua própria existência, na mais pura dinastia à corrente absurda-dadaísta criada por Eugène Ionescu e Samy Rosenstock (a.k.a Tristan Tzara), o cara da foto:


Como a maioria dos filmes romenos é de cunho político e de críticas ao antigo governo, "Poliţist, adjectiv" é um silencioso sermão daqueles que lutam manifestando e reivindicando novas formas de controle e leis estatais. No equilíbrio entre as leis federativas x éticas, a calada vida dos cidadãos romenos no pós-comunismo ganha voz com pequenos "bê-a-bás" engatinhados. No filme quase não há diálogos.A sequência de cenas estáticas e monótonas na rotina do policial Cristi, recém casado com uma professora (ao que tudo indica), que busca um flagrante para um caso entre três jovens usuários de haxixe, dois meninos e uma menina, onde um deles é o fornecedor traficante, é morna o suficiente para um bocejo. O seu informante e um dos meninos, Alex, é o principal suspeito, mas não há provas o suficiente para incriminá-lo e é aí que a consciência de Cristi esquenta. A falta de palavras e significados é o principal problema da história, problema esse que precisa ser levado à rixa. Cristi, assim como a maioria, desconhece as regras gramáticas da língua. Duvida das normas e da capacidade de quem as preparou. Desconfia da austeridade da academia de letras e das figuras de linguagem comumente relacionadas à poesia.


No entanto, só se é ouvido aqueles que falam, a palavra é o código de barra para a leitura de novos valores. Estamos falando de preço, preço. E quem é que não paga o preço de sermos o que somos? Em romeno ou português, espanhol ou francês, a autenticidade está carimbada na língua. Perdemos a cara se perdermos a língua, e na nossa evolução, estamos mais próximos dos ciganos que ainda não se acharam no mundo do que imaginamos. Até que se prove o contrário, somos todos romenos.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

fui à bulgaria procurar por augusto guimaraens



quem nunca idolatrou nessa vida, ou em outras, que atire a primeira pedra no jogo da amarelinha.
os idealistas preferem a primeira casa.
do zodíaco?
vô, digo:
- o senhor ainda pensa que os idealistas fazem do inferno o seu lar, doce sin, tático, mar?
todo idealista idolatra o alterego.
altera algo.

sim, estamos na bulgária
não estamos, au au gusto?

“ Era dia 32 de outubro quando um homem chamado Walter Campos de Carvalho ressaltou que até a possibilidade de a Bulgária se encontrar soterrada em um vulcão que se esquecer de acontecer deveria ser levada em consideração. Tal como Marco Polo, Colombo ou Amundsen, Campos de Carvalho procuraria a Bulgária na face da Terra, no espaço das galáxias ou até mesmo nas profundezas de algum outro oceano qualquer. Sua solução poética-sideral seria a de comprovar a existência búlgara e circunavegar seu nebuloso planeta no dia em que fosse comprovada existencialmente a Bulgária como o nome de um lugar e não apenas como uma maneira de se expedir alguma coisa, como quem diz à francesa, à inglesa, à milanesa ou simplesmente á moda búlgara(...)

(...) me lembro como se fosse hoje, na Copa do Mundo de 1994, os misteriosos búlgaros comemoravam cada gol com grito primal lançado ao ar, a clamar por uma possível, mas ainda incomprovada, existência. Aliás, nessa auspiciosa e abstrata seleção, não só Stoichkov tinha atos imprevisíveis, como também o pirotécnico Letchkov, seguido por Balakov, ivanov e Penev. Com a camisa 8 – representando o número do infinito – Stoichkov era o responsável por comandar um time que tinha talento, embora empacasse por tantas e tantas vezes nos seus próprios traumas milenares. Portariam os búlgaros a sombra do mundo? Viria mesmo a Lua da Ásia? A Ásia da Lua? Seria a Bulgária, afinal, um país de espelhos? Um território a nos devassar, do outro lado, toda vez que falássemos dele ao ameaçássemos nele pensar? Como recompor este “nosso” desastre?”

obrigado, au au gusto. agora eu me sinto em casa.
mi casa quer casa.
quem casa su casa.
cá estou eu.
castor?
não, coelho.

você tem razão.
tem?
c(l)aro.
uma passagem a bulgária só custa o preço de uma ideia.
daqui é possível ver todo o resto do mundo.

(resta um...).

estamos todos aqui: rodri-go! de soul-za lion, paul-o le whisky e au au gusto.

(resta um...).

eles nunca vão aprender a falar búlgaro. búlgaro é linguagem contemporânea:

“(...) No entanto, aqui as aspas entram em estado festivo de decomposição. Acreditamos que para habitar é preciso ser nômade, isto é, continuamos apostando que a milionária contribuição dos encontros fortuitos precisa ser cada vez mais desfrutada, para que não haja manual de instrução sobre o poema e nem muito menos somente um modo de usá-lo. Se o “contemporâneo” é a nova palavra da moda (o fetiche da vez), nós já preferimos outros tipos de fantasmas, tão contemporâneos quanto esta assombração chamada de O Contemporâneo¹ O verdadeiro contemporâneo é sempre um tempo por vir, já diria o poeta(...)

¹ Mais do que ser seu sobrevivento, o que mais interessava a Campos de Carvalho era ser contemporâneo de si próprio, e não apenas meramente sobreviver; até o ponto em que poderia ser ele o primeiro astronauta realmente lunático a chegar finalmente na Lua e embaralhar sua geografia. A cada ano que passa, os mapas vão engravidando de mais alguns novos países.”

simbá, vambora!
simbora!
sambola
samba + bola

a bulgágira é o país do foot sol. minha paixão duêndica pelos the bos in green começou também por ca(u)sa de futebol. international super star soccer. in terra dos outros. in terra nos outros. eu já era oswaldiano desde cedo.

ainda temos um campos de carvalho enorme pela frente.

qual caminho seguir?
para quem não sabe para onde vai, qualquer cachimbo serve nas bocas alheias.
quem tem boca vai a roma. mas só quem tem cabeça consegue viajar à bulgária.
com corda pra tu, agosto.
fumava um março por dia e agora só fumo um ano inteiro. abril a cabeça.

é claro.
é escuro.
pouco importa.
se vamos procurar a bulgária, comecemos pelo púcaro.
em nossas cabeças primo-ativos, a imagem do vaso
(sã na tório?)
representa o símbolo central do genérico feminino
(digo, gênero).
naum é, new- man?

“O feminino tem por núcleo simbólico o vaso. Tem-se a equação simbólica

Mulher = Corpo = Vaso = Mundo

que é experimentada por toda a humanidade como o Feminino.
O  vaso, o interior do corpo, em termos arquetípicos, é o inconsciente.
As funções básicas do feminino são:
-         Nutrir, dar calor, proteger e amparar.
-         Dar a vida, parir.
O Feminino tem o caráter simbólico do “conter” e “do estar contido”, daí o Grande Círculo e do anel urobórico.
O Grande Feminino rege a vida vegetativa, por consequência, a terra e suas transformações apresentam os mistérios do Feminino.”

por isso começamos a conhecer a bulgária,
país esse que tem o nome feminino,
(ao contrario de países como brasil, estados unidos da américa e japão)
pela sua capital:
(favor não confundir com O CAPITAL)
SÓFIA – “ Mulher refletida nos globos oculares de seus moradores dançando em parepeitos;”

“Como as asas de um púcaro, as praças de Sófia são formadas por pequenos coágulos materializados em simetrias de acasos. Toda cidade em seu lacre implorando para ser violado. Proteica e sonâmbulo, em Sófia os prédios verdejam e suas montanhas desafiam o vento. Muitos são os arqueólogos que defendem ao menos a possibilidade de Sófia estar situada debaixo da terra sem saber, tão imersa como Pompeia, Ofir, Melusina, Palmira, Tartessos, Herculano, Lulan, o império dos Citas e dos Incas, a Esfinge, as pirâmides ou Brasília – cidade sem esquinas, este desenho que virou cidade (...)”

aqui com vocês todos, me sinto como os índios que esperavam tranquilos ser colonizados por qualquer ideia branca ou homem em preto & branco.
estar na bulgária é não ter corpo. é ser palavra sem boca.

“(...) Alguns analistas de plantão ousavam dizer que uma mente distraída estaria mais perto da Bulgária do que de qualquer outro país; m temperamento inquieto sempre estaria mais próximo das incertezas (...)”.

“(...) Como bem me confidenciou outro dia Nelson Rodrigues em uma mesa de bar bulgarosofando com sua gargalhada cósmica: “Há tempos, fui à rua Bariri, ver um jogo do Fluminense. E confesso: - sempre considerei Olaria tão longíquoa, remota, utópica como Costantinopla, Sófia, Istambul ou Vigário Geral. Já na avenida Brasil, começava a sentir uma nostalgia e um exílio só equiparáveis aos de Gonçalves Dias, de Casimiro de abreu e dos búlgaros. Conclusão: - recrudesceu em mim o ressentimento contra qualquer espécie de viagem.”

não me leve a mau, au au gusto. você não é poeta. você é antes um poeita! poeta é pouco para sua cabeça búlgara.
tá bom, tá bom, mas não se nietzsche!

"Sua essência consiste em dizer o contrário do que se pretende comunicar a outra pessoa,... , fazendo-lhe entender-se pelo tom devoz, por algum gesto simultâneo, ou ... por algumas pequenas indicaçõesestilísticas - que se quer dizer o contrário do que se diz .(Freud, 1905a).”

já dizia o mulato austríaco sigmundo freud.
o que me diz?
giz?
quem nunca cheirou giz achando que era coca-cola?
cacos estilhaçados na bulgária. os búlgaros são inventados a cada dia.

“a realidade é uma colagem”, teria dito and y war hol(e).
e você, au au gusto, me ensinou esta arte:

“destinos são deuses, sem cairmos nas pieguices.”

“estátuas tocadas pela febre da linguagem”.

“jamais os nomes estiveram mais carregados e repletos de si mesmos”.

“aqui se apagam todos os “eus”, e também se escurecem as luzes”.

“em termos concretos qualquer certidão de nascimento pode ser blefe”.

“somente os argumentos mais abstratos poderão conceber um novo planeta”.

entender a bulgária é para poucos
(e não para PORCOS).

por que levam o tudo a sério?
o nada é mais legal!

a poesia e a sófia gostam que lhe passem a mão na bunda. poesia não gosta de ser idolatrada, não gosta de mimos. ela gosta de sacanagem, saca?

(e quem não gosta de sacanagem?).

o papo tá bom.
o papa é pop.
mas eu sinto que está faltando alguém nessa conversa de mar.

se o coelho branco não tem muito tempo a perder,
o coelho negro perdeu tempo antes do tempo perde-lo.

pede a saideira que eu preciso ir a irlanda proCURRAR james joy-se.

a viagem vai ser loooooooooooooooooooooooooonga.

buuuuuuuuuurrrrrppppp!!

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

mãos azuis versos vermelhos



amo as cores.
(por uma letra a mais, e o meu discurso ganha uma outra cor).
desde muito novo eu tive uma certa atração por cores apesar deu nunca conseguir me relacionar tão bem com nenhuma delas. todos os meus desenhos eram em preto e branco.

meu primeiro flerte começou através dos jogos de vídeo-games.
(meu primeiro contato com o mundo lisérgico, eu diria).
em minha adolescência, as cores chegaram até mim através das películas de pedro almodóvar (nos filmes de almodóvar, nada é de graça).
wes anderson também tem me chamado a atenção ao colocar as cores em seus devidos lugares. vide de exemplo o seu último filme moonrise kingdom.
eu sou do time de almodovar
(cuidado com as palavras...).
apesar das cores pasteis do filme de wes ter me encantado por sua estética “istangram”.

chegando na fase adulta, fui apresentado ao universo psicodélico. e isso me fez perceber ainda mais que o mundo nasce das cores. basta que você feche os seus olhos e verás que antes de surgir qualquer pensamento, nascerá cores dançando em suas retinas.
(é preciso saber colorir as ideias).

como não lembrar do programa que me fez entender um pouco mais como é que funcionam as cores:os  super sentai .
(power ranges, se você preferir a versão norte-americana).
através deles eu pude perceber que as cores estão intimamente relacionadas às nossas personalidades. vejamos:

o ranger vermelho normalmente é o líder;
o ranger azul costuma ser o braço direito do líder;
o ranger amarelo variava entre os personagens femininos e masculinos e quase sempre era excêntrico;
o ranger rosa dava o tom feminino à equipe;
e algumas vezes víamos rangers brancos que eram superiores aos demais; os rangers verdes junto  com os rangers azuis formavam a parte “racional” da equipe; e outras cores inusitadas que apareciam ao longo da série.

coincidência
(ou não),
acabo de ler dois livros coloridos demais para eu deixar passar assim pelos meus olhos despercebidos: “versos vermelhos” de bruno borja & “mãos azuis” de anna beatriz mattos.

por uma questão de ordem alfabética, e de cavalheirismo
(com “H” de “homein?”),
irei começar a “viajar”
(como diria dona alice souto)
pelas mãos azuis de bia
(“bia”para os amEGOS).
o livro é azul
o livre também:

Sobre o azul

Mãos azuis são mãos que tocam o céu. Ser azul é estar sentado sobre a pedra alta da cidade e observar que no meio das ondas, das pedras, dos trovões da chuva que já vem, dos sorrisos. No meio de tudo isso há uma calmaria lenta. Estar azul é conseguir sorrir enquanto seu coração aperta. O azul é um deixar de ser distância. É chegar mais para perto, mais para dentro.
 A palavra impossível é amar. Eu escrevo para que as flores não tenham medo e para que as pessoas sejam menos bonitas por fora. Para que os rios façam mais barulho e que esse seja o eco do caos. E que, em vez dessa sujeira e de alienígenas sentimentais, surjam raios laranja logo ao amanhecer. E que cada passo à noite seja uma estrela. Para que tenhamos tempo para os passos e para as estrelas. E que se houver morte, que haja sensibilidade. Para que as pessoas tenham coragem de comer as nuvens. Para que parem com esta entrega tão distante.
 Eu vou seguir a política das minhas próprias mãos. O azul é o que faz o coração bater. É o que vem depois do choro. O achado. É o que está por trás. É o que já esteve em nós.

coloco o meu nariz preto em cima das letras.
- huuuuunf!
sinto o cheiro pelas letras. é cheiro de fêmea.
um ponto para bia,
um conto para mim:

IV
OBRAHUMANA

Tira o teu pedaço direito. Tira os teus erros. Tira sua alma toda, a esquerda. Pense no que sobra, no que és. No que não pode ser. No que sempre viu sendo. No que sempre foi deixando. Para mias tarde, para nunca mais, para sempre adeus, para sempre um fim, para sempre não e não e não martelando. Ai, a mão cheia de maldade, martelando. Martelando. Desafia a ponta da lança: contraopeito. Tira tudo o que veio contigo. Formando na placenta, na quarentena biológica de acostumação do ser. Tira tudo e deixa só o que pensas agora, os dias depois do primeiro choro. Tua morte prematura me aflige. Tira tudo isso de você, antes que o espelho seja cruel demais., antes que eu ou os outros digam o reflexo. Entorna em quem tu és. Destorna-te. Detone-se. Acabe-se em fios de cabelos esvoaçados, sem um corpo, sem sustentabilidade na alma fria, insegura. Fios soltos, dispersos, em queda. Foi em balsa, em mar. Fios sem você.

 Toda a tentativa de ser e apenas. Sem carregar
Dilemas, cromossomos, nomes arbitrários, afeto distraído:

                                                                          Bálsamo, balsamar,
Invisível, eu sei.
Vago, vago. Como uma rã apressada demais amaciando os pulos em vitórias régias alucinadas com tudo o que vê.

Não sobra nada de essência. Não há nada mais leve e representativo do que o pensamento. Pensar é viver. Errado. Pensar é existir. Viver é diferente Existir.

Errado.

foi com esse conto que eu tive o meu primeiro contato com o livro, um pouco antes do seu lançamento.

acabei de comprar o livro do psicólogo suíço max lüscher intitulado “ teste das cores”.
(o teatro está me fazendo mergulhar ainda mais nesse universo colorido).
max realizou “um estudo do ser humano em um teste com sensações cromáticas e acromáticas”. ele chegou às seguintes conclusões:

“O azul é indicativo de plena calma; um indivíduo que se encontra doente e que deseja recuperar-se rapidamente escolhe esta cor; mas o mesmo também se torna sensível e tende a magoar-se;
 Pode-se concluir assim que doenças como a acne e o eczema, muitas vezes podem estar ligadas a relações perturbadas que envolvem ternura, amor ou afeto íntimo, como a família, o casamento e o amor jovem.”

wilhelm reich teve a seguinte conclusão sobre o orgônio:

“O ‘orgônio’ seria a energia cósmica primordial e onipresente, de cor azul, responsável pelo clima, cor do céu, gravidade, formação das galáxias e manifestações biológicas das emoções e sexualidade.”

um outro psicólogo chamado j. (juan?) bamz, tem como base a preferência das cores de acordo com os anos de vida:

azul: de 40 a 50 anos – idade da inteligência e do pensamento;

sendo a cor azul muitas vezes vinculada ao intelecto, trabalhar com ela não é para qualquer um. vide de exemplo o poeta carioca rodigo de souza leão que publicou em seu blog o seu último poema :

COR AZUL.

A mente esquizofrênica não funciona bem e boicota, sem os remédios, o tempo todo. Com remédios ficamos bem. Leves e tranqüilos para o mundo, que é muito bom. Fora as pessoas que não valem à pena, estas manter distância torna-se necessário. Positive Vibrations.

Thursday, June 25, 2009
Posted by Rodrigo de Souza Leão at 2:13 PM 16 comments

ninguém melhor do que uma escritorA
(com “A”)
para lidar com esse universo das mãos azuis.
e bia se entende muito bem com a cor azul:

Silêncio satisfeito

Eu só queria ter sido sensível,
queria ter chorado com a sua pele.      

“Silêncio comum. Silêncio gigante. Silêncio maior que o amor. Silêncio constrangido. Silêncio mal falado. Silêncio eu. Silêncio você.  Silêncio eu.  Silêncio eu. Silêncio dias que não chegam. Silêncio eu. Silêncio perdão.  Silêncio eu. Silêncio você. Silêncio eu. Silêncio você.  Silêncio eu. Silêncio paixão. Silêncio eu. Silêncio azul (...)”

deve ser por isso que bia recorre a um eu-lírico APARENTEMENTE masculino:

(...) suspensão do juízo: a verdade é um sonho.
ela riu. Que ninguém dorme para sonhar.

soltei-a feliz.
instigava-me nela seu prazer pelo inconsciente(...)

ainda sim, bia não perde a sua cor:

Dança íntima e alegre

Um calor azul demais. Braços esguios pretos para um próximo abraço blues. Gira o encontro.                Peles, pelos, pelas, por amor. Manipula a órbita o descaso. Abraça. Sorri.
Queira. Quente como nunca. Blues o quanto puder. Bocas fechadas
para não ferir

bia explora ao máximo a cor azul em seu livro. o mesmo acontece com o livro “versos vermelhos “ do escritor (sem “A) bruno borja , só que de maneira contrária.
como assim?

o raciocínio lógico de bruno é visível.
basta que você veja o livro com as suas 209 páginas.
(coisa incomum nos livros de poemas).
 e que são divididos em capítulos:

capítulo: I – revolver
capítulo: II – na sombra da noite
capítulo: III – versos para viagem
capítulo: IV – as sutilezas improváveis do caos
capítulo: V – virtualmente concreto
capítulo VI – modelos mentais em elevado grau de abstração

abusado,
o ápice de se raciocínio lógico nos é apresentado no seguinte poema:


FURTA-menTE

                            a Vladímir Maiakóvski

  de PENA em punho
  TEU VERSO pon-
   tudo AGUDO
  trinca o ar
  rompe os ouvidos
   com cacos
                                          DE VIDRO
  de SOM do
                EXTRA-e-b(r)ilho
  POLIDO
                                                 O mármore-TOMBO
  em QUE ELEVA teu busto
  e A POESIA te busca
  DOBRANDO a ex-
 quina  redonda de FOI-SE
                                                    estala teu coice
 CONTRA OS MUROS
 duros
                   muros
                                     burros
 e já fazes TEUS FUROS...
 POETA-cubo!
 dos
                       - ismos
 FUTURO de rima
                                                   SEM RUMO
 Segue a TRILHA
 linha COLORIDA
            DO TEU SANGUE
 peito langui-
                                     do mais PURO
 VERMELHO rubro
 desbotada BANDEIRA
                                              ainda FLÂMULA
                vista TURVA                                                                          
                embaça MENTE-
te cala!
                 a voz mais alta
                                           DA REVOLUÇÃO
e NÃO (h)ouve teu grio...
MUDO em ti
que bateforte-n(ó)s
OUTROS LOUCOS
                        de outras bandas
iluminadas de OURO
derrAMADO
                           DE TEU SOL
manchado em TUAS
nuvens e
tin-tas-TÃO-tuas       

pra SEMPRE
                             nas RUAS
ficam FERIDAS
                            abertas POR UMA
.
Cor-
               t-
                           ANTE-LÍNGUA!¹



1 Caro leitor, por favor, agora leia somente as palavras em negrito.


tenho me empenhado em escrever um livro sem título
(nome melhor não há para esse projeto).
e em uma das páginas do livro tem uma prosa onde a mesma experiência literária com uma “voz da consciência”, foi empregada no texto afim de dar um duplo sentido no discurso.
(tudo na vida carrega o seu duplo).
assim que eu olhei para o poema de bruno, pensei com a minha consciência:
- é disso que eu estou falando!
apesar de não ter sido o primeiro a publicar tal texto
(para os arianos isso é motivo de guerra!),
fiquei contente em saber que ao menos caminhamos em direção ao mesmo destino.

poema não é escrever somente o que você está pensando.
poema não é escrever somente o que você está sentindo.
poemas são criados na capacidade de sintetizar pensamento & sentimento.
e se a bia consegue explorar as “mãos azuis” por ter o seu gênero contrapondo seu objetivo,
bruno, com todo seu raciocínio lógico, explora a ideologia vermelha da viceralidade.

GOTAS DE SANGUE

Um amor, só lâmina
De faca amolada
Em pedra de mármore
Coração duro
E frio
Que dá corte
Que dá fio
Ao pedaço de aço
Rasgando a carne
Olhar agudo
Penetra fundo na alma
Faz-se noite alta
Penumbra
Fim de tarde em dia de chuva
Cabelos molhados
Grudados na testa
Com ar de desespero
Sente-se cheiro
Lânguido
Do sangue quente
E forte
Que escorre do cabo
Punho de faca cravado
De vermelho
Mancha as roupas

Gota por gota...

Desfaz-se em poça
O amor
Que está em mim

Não mais!

não por acaso,
os russos, pais do formalismo, inventaram também o exército vermelho.

país esse que em temporadas de inverno seu clima pode chegar a ter -40°C a -50°C
(especificamente na Sibéria, região norte do país),
fico me perguntando se o comunismo não foi a maior ideia russa para combater o frio.
(deixo essa tese para um outro dia...).

até porque,
quais são as comédias russas e quais são as tragédias russas mais famosas em sua literatura?

e se independente do clima,
a sociedade “literária” em sua maioria é fria,
bruno é um dos poucos literários que não tem medo de se assumir comunista.
até porque ele,
assim como oswald de andrade,
Reconhecem o valor daqueles que nasceram num país tropical

Dilúvio
        
a Oswald de Andrade

Chove na cidade-mar
Escorre entre os dedos
Mais um verão
Março ano-novo tempestade
Dispersão de Carnaval
O povo correndo
Água nas canelas!


e o que dizer dos estudos feitos pelo psicólogo de j. bamz sobre a cor vermelha?

Vermelho: 01 a 10 anos – idade da espontaneidade e da efervecência.

ou das pesquisas elaboradas por max lüscher ?

“O vermelho revela uma vida intensa e liderança. É impulso, avidez e força de vontade, em oposição ao verde que é elasticidade da vontade.
 O vermelho-alaranjado significa desejo, todas as formas de ânsia e apetite insaciável. Seu conteúdo emocional é o desejo e sua percepção sensorial é o apetite. É uma cor ativa.”

não por acaso,
bruno borja ao lado de seus companheiros alice souto, luca Argel, lúcia helena & Cia,
formam os super sentais
(digo, super poetas)
que promovem as oficinas poéticas FORA DE ÁREA, às quintas-feiras no SESC Tijuca.

o desejo de criar uma nova sociedade; uma nova universidade; é latente nas palavras do jovem escritor que ousa em cruzar o mar vermelho. em suas veias corre a necessidade de quem precisa do coletivo. de quem deseja acabar com todas as formas de repressão e segregações nos meios literários .
bruno não faz questão de ter o sangue azul,
pelo contrario,
brada o orgulho em ter o sangue vermelho.

“ (...) Furta-cor
De brilho intenso
Magistralmente
Tu és vermelho!
Vermelho
                     Como a gente...”

eu não procuro levantar a bandeira do azul e muito menos do vermelho.
prefiro antes,
fincar a minha bandeira no arco-íris
(o único lugar genuinamente democrático, onde todas as cores convivem em harmonia).

como diria o poeta psicodélico torquato neto:

eu me sinto melhor colorido”.